terça-feira, fevereiro 18, 2003

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Caderno C



MÚSICA
Abril Pro Rock cai na real
15/Fev/2003


SCHNEIDER CARPEGGIANI

Nada de Frank Black (líder do finado Pixies), como foi cogitado, ou qualquer outro nome gringo. O Abril Pro Rock, que soltou para a imprensa local, na última quinta, sua programação para 2003, desacelerou sua internacionalização iniciada em 1999 – que a partir de então trouxe para o Recife nomes como Jon Spencer Blues Explosion, The Charlatans e Sepultura. Agora teremos O Rappa, Nação Zumbi, Nando Reis, Ira!, Los Hermanos e novatos como Cachorro Grande e o projeto Instituto. Só ‘santos da casa’.

A estabilidade econômica dos primeiros anos do real trouxe ao Brasil a fugidia fantasia de ingressar de vez no circuito das grandes turnês das estrelas internacionais. Até parecia que era para sempre. Mas a disparada na oscilação do dólar logo enterrou o sonho, sem missa de sétimo dia e sem previsão de ressurreição à vista. E foi o Free Jazz cancelado, o Rock in Rio IV adiado... Voltamos a ficar isolados do resto do mundo.

“Se até o Free Jazz e o Rock in Rio tiveram de suspender suas atividades, nós também tivemos de encarar a impossibilidade de trazer artistas estrangeiros. Às vezes, o cachê do artista até que nem é tão caro, mas quando a gente converte de dólar para real a situação muda. E tem também o preço operacional. Por exemplo, muitos artistas fazem questão de viajar de primeira classe, o que encarece ainda mais o custo”, declarou o produtor do Abril, Paulo André.

A ausência de atrações internacionais fez com que o festival cancelasse sua versão paulistana. De gringo, o APR só tem o quase desconhecido grupo alemão de punk Terroggruppe, que em abril faz turnê pelo Brasil. “São Paulo é uma cidade onde há muita concorrência entre os eventos. Não dá para fazer o Abril por lá sem um nome estrangeiro. Não faz sentido”, afirmou Paulo André.

Este ano, o APR irá trabalhar pela primeira vez com dois preços diferentes. Quem comprar antecipado, paga R$ 12 (com carteira de estudante) ou R$ 24. Na hora, os ingressos, que serão postos à venda após o Carnaval, irão custar R$ 15 ou R$ 30. Quem comprar o passaporte para os três dias (R$ 45), leva ainda o CD do festival.

MAPEAMENTO – Com os gringos na geladeira, o APR volta a cumprir sua função primeira de mapear, situar e apontar nomes que estão despontando no cenário pop brasileiro. Artistas que, sem a estrutura de um grande festival, dificilmente aportariam em um Recife que – se você prestar bem atenção na pauta das casas de shows/teatros – virou abrigo de bandas com a marca de algum especial da MTV no cartaz/CD e, pior, de artistas da MPB que faziam sentido lá nos anos 70 e já não têm mais o que dizer.

Pois bem, o APR deste ano tem o som com legítimo sotaque carioquês, todo ensolarado, meio sacana e meio político, do Stereo Maracanã, que lançou ano passado o CD Combatente. Tem o rock indie dos gaúchos do Cachorro Grande, cujos integrantes se apresentam de terno (sim, você pensou em The Strokes, não?) e mandam ver em letras muito sacadas, como essa: “Quero uma garota que já tenha sexperienced/ E não tenho razão para me importar com que os outros pensem/ E não tenho medo de te dizer/ Que essa garota pode ser você/ Desde que tenha sexperienced/ Já experimentei ter paciência com as mais inibidas/ Mas enchi o saco agora quero só mulheres vividas”. Vale a pena visitar o site www.cachorrogrande.com.br, por onde você pode conferir vários MP3s do grupo.

Da vizinha Paraíba, tem Chico Correa (apesar do nome é um grupo), um dos destaques da cena eletrônica de João Pessoa e apontada, pela saudosa e finada revista Play, como um dos destaques do atual pop brasileiro. E tem o projeto Instituto, que iria se apresentar no Recife com o rapper Sabotage, recentemente assassinado.

Dos medalhões do pop nacional, apresentam seus discos novos por aqui O Rappa pós-Yuka, Nando Reis e Los Hermanos. Uma das bandas mais históricas do rock brasileiro, o Ira!, enfim, perde sua virgindade de Abril Pro Rock. “O Nasi sempre reclamava comigo e até mandava recado de que nunca havia se apresentado no Abril. O Ira! é uma das bandas dos anos 80 que ainda tem alguma coisa a dizer”, atestou Paulo.

“O mundo vive um momento muito forte de crise na sua indústria fonográfica. E, ironicamente, isso tem sido muito bom para os independentes, que estão lançando muita coisa de qualidade nos últimos tempos. O Abril Pro Rock, que sempre procurou ser um festival independente, não pode ficar de fora desse quadro”, concluiu o produtor.







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