terça-feira, abril 15, 2003

Correio Da Bahia
Terça-Feira, 15 de Abril de 2003

Aumenta que isso aí é Abril Pro Rock!
Bons shows, produção eficiente e ótimo público marcaram o festival pernambucano

O vocalista Jorge Du Peixe no comando da Nação Zumbi, show impecável no décimo primeiro Abril Pro Rock

Hagamenon Brito*

Festivais alternativos de rock e música pop pululam pelo país, numa rede que tem muito a ensinar ao mainstream nacional (caso ele queira desenterrar a cabeça da areia), mas nenhum deles tem a dimensão e o histórico do Abril Pro Rock, de Recife, com sua proposta de mesclar artistas novos com consolidados que têm certa postura indie.

No ano em que o Mangue Beat completa uma década, o APR - nascido junto com o "movimento musical brasileiro mais importante desde o Tropicalismo", segundo DJ Dolores - viveu uma das suas melhores edições. A produção reforçou a infra-estrutura, montou uma boa programação e o público recifense, só para variar, fez a sua parte.

De acordo com Melina Hickson, produtora executiva, cerca de 18 mil pessoas passaram pelo Centro de Convenções de Pernambucano, entre sexta e domingo, quando o Ira! fechou o festival no começo da madrugada (de ontem). Na mesma noite, Nando Reis, Los Hermanos e a gauchada do Cachorro Grande mataram a pau com uma precisão, digamos, cirúrgica.

Tudo correu na paz: segurança (300 homens na parte interna, educados para conviver com jovens num grande evento de rock, o que implica em não ligar para cigarros de maconha), bares, alimentação, feirinha com 30 expositores (roupas, HQ, tatoo, skate, discos, artesanato) e até uma impagável e trash Monga, a Mulher Gorila.

Boa mistura - Em sintonia com festivais do gênero como o Goiânia Noise (GO) e Porão do Rock (DF), a produção do APR 2003 focou o olhar na nova cena independente nacional - e fez a coisa certa. Que feedback melhor pode ter uma banda indie do que ver a metade do público entoar suas canções (que jamais entrarão numa novela da Globo)?

Foi o que aconteceu com a capixaba e punk rock Dead Fish, sábado. Impossível não seguir o coro da multidão no hit Me ensina. Outra prova de que, atualmente, o melhor do rock tupiniquim está no underground. Os shows de Nancyta e Os Grazzers (veja boxe) e do já citado Cachorro Grande (estilo e combustível de sobra) foram outros bons exemplos.

Porém, como nem tudo que reluz é ouro, o universo indie também abriga muita bomba ou inexperiência travestida de modernismo. Com uma faixa interessante (Baião lo-fi) incluída na trilha do filme Deus é brasileiro, o grupo paraibano Chico Correa era uma das apostas da produção do APR. Decepcionou feio na noite de abertura.

A idéia é mesclar jazz com eletrônica e identidade regional. Como diria o produtor e grazzer andré t., dono de um senso crítico mordaz, ao vivo o Chico Correa (o nome é uma brincadeira com o pianista americano Chick Corea) não passa de um sub-lounge. Além de incoeso, o instrumental é fraco e a vocalista mais ainda.

De certa maneira, a estética pretendida por Chico Correa é infinitamente melhor desenvolvida pelo DJ Dolores e Orquestra Santa Massa. Liderada por Helder Aragão, o sergipano que atende pelo nome artístico de DJ Dolores, a Orchestra Santa Massa mixa eletrônica, sotaque e apelo pop em doses certas. Adorela levantou a multidão.

No painel de sotaques que foi o APR deste ano, a empatia do grupo Stereo Maracanã com o público, no sábado, foi algo contagiante. Melhor ao vivo do que em CD (lançado pela Maianga Discos), o Stereo tem base no hip hop, mas passeia pela falange rítmica carioca. Funk, percussão, Jorge Ben, hits (Freestyle love é dez!), tá ligado?

E já que chegamos à praia grooventa, 500 pontos para a habitual química de O Rappa (com Falcão em noite inspirada) e 600 pontos para os donos da casa, Nação Zumbi. Ninguém supera Jorge Du Peixe (seguro e longe da sombra de Chico Science) e Cia no Brasil quando o assunto é groove + peso. Um show memorável. Sim, o maracatu da NZ pesa uma tonelada.


* O jornalista viajou a Recife com apoio do APR


Nancyta e Pitty no pedaço


Nancyta e Pitty eram esperadas com certa curiosidade no APR, segundo o produtor Paulo André. Tudo por causa do clichê de que Salvador é a terra da axé music (pelo menos até a dita cuja ser enterrada). E as boas garotas más baianas mandaram bem. Especialmente dona Nancyta.

Na companhia dos bons grazzers (andré t., CH e Rex), Nancy - cantora afinada e forte - se apresentou no sábado, no palco 2, junto com o hardcore inexperiente do Porão GB (PE), o death metal quase risonho do Infested Blood (PE) e o punk rock competente do Mukeka Di Rato (ES).

Na terceira música, Minhoca azul d grude, o publico já tinha entrado na onda (rock pesado com levadas aceleradas) de Nancyta e Os Grazzers. Como ganhou mais dez minutos de palco (o combinado era meia-hora), a banda emendou dois ótimos covers: Detroit rock city (Kiss) e Jailbreak (AC/DC).

Com seu primeiro álbum solo, Admirável chip novo, Pitty chegou a Recife com seu nome já causando burburinho entre os jornalistas (por causa do trabalho da gravadora carioca DeckDisc) e a garotada ligada na MTV, onde está rolando o videoclipe do primeiro single, Máscara.

Na performance de anteontem, o rock com cortinas de guitarras e um quê de new wave de Pitty não chegou a contagiar o público em frente ao palco 2. Não é mesmo fácil construir uma identidade musical. Pelo menos, a cantora está sabendo evitar os clichês. O resto pode ser uma questão de tempo.


*ABRIL PRO ROCK


O VOCALISTA da banda punk alemã Terrorgruppe protagonizou a cena mais bizarra do festival em qualquer uma das suas 11 edições: no fim do show, sábado, de costas para o público, ele baixou as calças e enfiou uma estrelinha junina (tipo de fogo de artifício) acessa naquele lugar. E ainda rebolou. Doido é pouco!


A MTV, claro, estava no APR. Edgard comandou as entrevistas e a cobertura que começam a ser exibidas hoje no Jornal da MTV, às 12h30 e à meia-noite.


A SECRETARIA de Cultura de Pernambuco entregava nos camarins de cada banda uma bandeira do estado, camisetas e cartão personalizado em que o governo agradecia à participação do artista. Ah, se toda Secretaria de Cultura tivesse a mesma sensibilidade para assuntos pop!


HÁ QUEM ache que o Shaman é mais um caso de salão de cabeleireiro do que outra coisa, mas a molecada adora o circo heavy melódico de André Matos e Cia.


INSTITUTO, misto de projeto/grupo paulista, não funcionou bem ao vivo, na sexta. As participações do Bomsucesso Samba Clube e Fred 04 amenizaram a decepção.


MUNDO Livre S/A contra-ataca com O outro mundo de Manuela Rosário. O disco independente sai no fim de maio.


LOS Hermanos e o público do APR têm um caso de amor. O público recifense adora a banda carioca cujo terceiro CD, Ventura (BMG), sai em maio. O primeiro single, Cara estranho, chega às rádios hoje.


OUTRO affair do bem: Monga e Nancyta e Os Grazzers. Rolou até foto com a Mulher Gorila.





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