terça-feira, maio 24, 2005

Agrestewerk
Sábado fui ao Sambacana ver o show da banda paraibana Chico Correa, que tinha ouvido falar mas de quem nunca chegou nada aos meus ouvidos. Subi as escadas até o mezzanino do Sapori de Rosi no momento em que os músicos se acomodavam no palco e quando vi o estilo low profile das vestimentas do grupo minha sirene perdigueira apitou no ato:
-Meu São Punk, aí tem coisa.
É que, (não considerem como regra, por favor) toda vez que vou ver uma banda, e ela se dispõe no palco cheia de balangandãs fashion-disco-hype-punk-rock, o som na seqüência não é lá essas coisas. Se preocupam demais com a maquiagem e deixam de lado o mais importante... A banda confirmou meus preceitos: Pareciam vestidos pra ir na esquina tomar um goró ou a uma festinha na casa de amigos, despretensiosamente; Noves fora, música boa.
Vamos ao som:
O grupo sabe utilizar com inteligência os samplers, que se dispõem à frente do palco disparados por quem parece ser o seu mentor, o guitarrista Chico Correa.
Bateria, baixo, sax, guitarra, percussão e uma linda voz agreste feminina são usados com parcimônia junto a bases e ruídos eletrônicos. Coloquei a mocinha na descrição dos instrumentos por que a voz dela é realmente um.
Melodias vocais de música popular nordestina como toada e cantoria se adequam perfeitamente ao casamento entre instrumentação eletrônica e “acústica”, lembrando um Portshead que nasceu no sertão e foi morar na praia. Posso usar como referência o trabalho do DJ Dolores e Aparelhagem com a inconfundível voz de Isaar, mas apesar da Chico Correa pertencer ao mesmo universo sonoro, trilha um caminho mais sutil, entre o trip-hop e toques de progressivo; O uso de timbres graves nas bases evidencia esse processo mais autoral. Sim, Chico Correa também flerta com o drum and bass à Dolores, mas, que fique claro, durante o desenrolar do show percebe-se que beber nas mesmas fontes não quer dizer cópia e sim beber nas mesmas fontes, tentando fazer ao seu modo o bate-estaca étnico que tanto traz novidades à cena eletrônica mundial e é mediocremente subtilizado no Brasil. Com raríssimas exceções. Chico Correa é uma delas. E o pleonasmo na frase acima é necessário.
Doses cavalares de subs do baixo destacaram a pegada “dub” do baixista, em certos momentos o mais animado do grupo, com direito até a pulos e pequenos pogos (o famoso bate-cabeça metaleiro) nas partes agitadas.
Agitado mesmo estava o amigo Theo Werneck, dj residente da festa, que não parava de afirmar, aos brados: - Isso é que é tirar poeira dos ouvidos, depois de ouvir tanta coisa sem sal que passa pelos palcos da cidade.- Sim, os Correa estrearam bem na ribalta paulistana.
Theo também cunhou o título desse post, novamente a plenos pulmões, simulando o acento nordestino:
- Alfaia cabra da peste, isso é Agrestewerk! Isso é Agrestewerk !
Depois de uns solos de sax à Stones, manipulados pelos efeitos dos samplers e a morenice afinada e brejeira da cantante , só podia concordar :
- Kraft, Kraft, amigo Theo! Vida longa ao cumpadi Chico Correa!

retirado do blog do alfaia, da banda Monjolo. valeu o elogio ai man!!!




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